Gata borralheira
Era uma vez um homem muito rico cuja esposa, enfraquecida pela doença, sabia que o fim se aproximava. Com voz serena, chamou a filha e deixou-lhe um último conselho:
— Sê sempre boa, minha querida. Boa e piedosa, aconteça o que acontecer.
A menina prometeu. E cumpriu. Mesmo depois da morte da mãe, manteve-se fiel à sua memória — todos os dias ia ao túmulo levar flores e sussurrar saudades. Era um coração terno, moldado pela dor e pela esperança.
Mas o pai, passado algum tempo, voltou a casar. E com quem? Com uma mulher amarga como fel, que trouxe para casa duas filhas tão vaidosas quanto cruéis. A menina passou de filha amada a criada invisível. Varria, limpava, cozinhava — dia e noite. Dormia junto à lareira, coberta de cinzas, e por isso começaram a chamá-la… Gata Borralheira.
Um dia, o rei anunciou um grande baile. Três noites de festa para que o príncipe pudesse escolher a futura esposa. As irmãs da Gata Borralheira, entre risinhos e desdém, vestiram-se de luxo e partiram para o palácio. Ela, deixada para trás, suspirava em silêncio.
Mas algo extraordinário aconteceu. Uma pomba branca surgiu e conduziu-a até uma árvore mágica, que brotara do túmulo da mãe. E ali, como por encanto, recebeu um vestido deslumbrante e sapatinhos dourados que cintilavam como estrelas.
Naquela noite, quando entrou no salão, todos pararam. O príncipe ficou imediatamente rendido. Dançaram, riram, esqueceram o mundo — até que ela teve de fugir, antes que a magia se desfizesse. Na pressa, deixou um dos sapatinhos para trás.
Determinadíssimo, o príncipe ordenou que todas as jovens do reino experimentassem o sapato. Vieram princesas, burguesas, até criadas. Ninguém servia. Quando chegou a vez da Gata Borralheira, as irmãs riram alto. Mas… o sapatinho coube como se tivesse sido moldado para ela.
— É ela! — exclamou o príncipe. — A minha escolhida.
Casaram-se com pompa e alegria. E viveram felizes, entre danças e sorrisos, num reino onde a bondade foi finalmente recompensada.
Quanto à madrasta e às suas filhas? Tiveram de engolir o orgulho, aprender a lição e descobrir — com esforço — que tratar os outros com respeito e humildade… não é favor. É dever 👑✨🕊️.