Ritmos musicais podem ajudar crianças a superar dificuldades de fala e linguagem

Por Paul McClure
11 de julho de 2023

Uma investigação recente revelou que crianças com perturbação do desenvolvimento da linguagem (PDL) podem beneficiar da audição de ritmos musicais regulares.

A PDL é uma condição permanente que se manifesta na infância e afeta a expressão e a compreensão linguística. Estima-se que cerca de 7% da população seja afetada — uma prevalência 50 vezes superior à da deficiência auditiva e cinco vezes maior do que a do autismo. O termo “desenvolvimento” refere-se ao facto de o distúrbio estar presente desde cedo e não resultar de uma lesão adquirida.

Crianças com esta perturbação podem apresentar dificuldades em compreender palavras, seguir instruções ou responder a perguntas. É comum que tenham dificuldade em encontrar as palavras certas para expressar ideias, organizar frases, manter a atenção, ler e escrever, e lembrar-se do que lhes foi dito. A longo prazo, estes desafios podem afetar negativamente o desempenho escolar e a vida social.

Um novo estudo, liderado pela Western Sydney University, investigou se ouvir ritmos musicais regulares podia ajudar estas crianças a melhorar uma tarefa em que tendem a ter dificuldades: a repetição de frases.

Estudos anteriores já tinham demonstrado uma forte ligação entre as áreas do cérebro envolvidas no processamento da linguagem e da música. Música e linguagem partilham elementos como a sintaxe, o ritmo e o processamento auditivo — o que sugere a possibilidade de transferência de competências entre ambas.

No estudo, participaram crianças francófonas entre os 5 e os 13 anos, sendo 15 diagnosticadas com PDL e 18 sem a condição. As crianças ouviram ritmos musicais — regulares ou irregulares — durante 30 segundos, seguidos de seis frases que tinham de repetir com a maior precisão possível. Numa tarefa de controlo, após ouvirem os ritmos, realizaram uma atividade visual: identificar o maior número possível de animais num tempo limitado.

Os ritmos regulares tinham compasso 4/4 e 120 batidas por minuto. Já os irregulares eram desorganizados, impedindo que se formasse uma batida reconhecível.

“Descobrimos que, em todas as crianças — incluindo as com dificuldades de linguagem —, a repetição de frases foi mais eficaz após ouvirem ritmos musicais regulares, comparativamente aos ritmos irregulares”, explicou Anna Fiveash, autora principal do estudo.
“Esta descoberta é significativa, dado que repetir frases — sobretudo gramaticalmente complexas — é um dos maiores desafios para crianças com PDL.”

Importa referir que não houve diferenças no desempenho da tarefa visual, o que sugere que os benefícios do ritmo regular são específicos para o domínio da linguagem. O estudo reforça a hipótese de que o cérebro usa mecanismos partilhados para processar ritmo e gramática.

O diagnóstico da PDL deve ser feito por um terapeuta da fala especializado na avaliação e tratamento de perturbações da comunicação.

Os investigadores defendem que os seus resultados abrem caminho para integrar música rítmica como recurso terapêutico.

“A dificuldade no processamento da linguagem pode dificultar a compreensão de colegas, professores e familiares, tornando a expressão verbal menos eficaz. Isso acarreta riscos para o desenvolvimento académico e social ao longo da vida”, afirmou Enikö Ladányi, autora correspondente do estudo.
“A terapia da fala é fundamental para mitigar esses impactos — e as nossas descobertas podem contribuir para enriquecer e modernizar as práticas terapêuticas atuais.”

O estudo foi publicado na revista NPJ Science of Learning.
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