A bolsa

Certo dia, do alto do Olimpo, Júpiter ergueu a voz:
— Que todos os seres vivos compareçam diante do meu trono! Quem tiver queixas quanto ao corpo que lhe foi dado — forma, cor, proporção ou o que for — que fale sem medo! A justiça será feita na hora.

Primeiro chamado: o macaco.

— Diz lá, primata saltitante, estás feliz com o teu aspeto? Olha para os teus irmãos de quatro patas. Que dizes?

O macaco coçou o queixo, soltou um risinho e respondeu:

— Satisfeitíssimo! Quatro patas? Tenho. Cara? A mais charmosa da selva! Agora... se eu fosse um urso? Credo! Com aquele ar desmazelado? Prefiro levar um banho de lama a trocar com ele!

Chegou então o urso.

— Alguma queixa? — perguntou Júpiter.

— Queixa? Nenhuma! Sou perfeito. Mas já que falamos... aquele elefante? Uma desgraça estética! Se ao menos lhe cortassem metade das orelhas e encurtassem aquele rabo...

O elefante, ofendido, abanou as orelhas como velas ao vento e resmungou:

— Se for para falar de exageros, olhem a baleia! Gigante sem jeito, só gordura e nada de graça.

Enquanto isso, lá em baixo, a formiguinha cruzava os braços e disparava contra o mosquito:

— Aquilo é um ser vivo? Que minúsculo! Um nada! Eu, ao lado dele, pareço uma torre!

E assim seguiu o desfile. Um a um, criticando os outros — mas sem mudar uma vírgula sobre si mesmos.
Quando terminou, cada qual foi para o seu canto… inchado de razão e vaidade.

Moral da história?
Somos todos linces para ver o defeito alheio — e toupeiras para enxergar o nosso.
Carregamos uma mochila invisível: os erros dos outros à frente, bem à vista… os nossos, escondidos nas costas.
E lá vamos nós, de nariz empinado, sem perceber que talvez sejamos o urso do macaco, a baleia do elefante ou o mosquito da formiga. Que grande ironia!

🪞 Antes de apontar o dedo, olha-te ao espelho. Às vezes, a imagem que vês... tem muito mais a dizer.

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