O HOMEM E A SUA IMAGEM

Havia um homem que, no amor por si mesmo, não tinha igual.
Achava-se tão belo — mas tão acima de qualquer padrão terreno — que ninguém mais lhe parecia à altura.

Preso nesse feitiço vaidoso, fugia de todo espelho como o diabo da cruz.
Mas o destino, malandro e determinado a curá-lo dessa doença de alma, não lhe dava tréguas.
Espelhos por todo o lado:
— Nas salas douradas das senhoras,
— Nas estalagens e vitrines das cidades,
— No bolso dos vaidosos,
— Presos ao cinto de cada dama, refletindo sorrisos e batons.

E Narciso? Fechou-se no mato.
Foi esconder-se num vale escondido, longe da vida e da gente,
Só para que nenhum reflexo lhe estragasse a ilusão.

Mas eis que, mesmo ali, a verdade o esperava.
Na paz da floresta, encontrou uma nascente — tão clara que mais parecia um espelho líquido.
De repente, lá estava ele…
O rosto que tanto adorava, a olhar de volta, calmo e mudo.

Sentiu raiva. Sentiu medo.
Tentou fugir.
Mas não conseguia desviar os olhos daquela água quieta —
O reflexo chamava por ele, como um feitiço.

E antes que termine esta história, já percebeste a moral, não é?
Nenhum de nós está imune.
Todos temos um Narciso lá dentro, à espreita.

Afinal, os espelhos mais perigosos… são as falhas dos outros.
É nelas que vemos, sem querer, os nossos próprios defeitos refletidos.

E aquele riacho encantado?
Pois bem — não é mais do que o teu Livro de Máximas.
Lê-o com atenção. Ele não mostra só os outros. Mostra-te a ti. 👁️💧📖

Anterior
Anterior

O DRAGÃO DE MUITAS CABEÇAS E O DRAGÃO DE MUITAS CAUDAS

Próximo
Próximo

A bolsa