O DRAGÃO DE MUITAS CABEÇAS E O DRAGÃO DE MUITAS CAUDAS
Conta-se que, em tempos idos, um enviado da Porta Sublime — representante altivo do Império Otomano — discursava com certa prosápia na corte do imperador alemão.
Com peito inflado, louvava as legiões do seu sultão:
— “Não há exército na Europa que se compare ao nosso! A força do firman é incomparável!”
Mal terminou a frase, um holandês — desses de olhar calmo mas língua afiada — respondeu com um sorriso discreto:
— “Pois saiba, senhor embaixador, que nosso imperador tem vassalos que, por conta própria, sustentam mais tropas do que muitos reinos inteiros.”
O turco, homem vivido, não se ofendeu. Pelo contrário. Curvou-se levemente e retorquiu com uma história:
— “Conheço bem esse tipo de força. E isso lembra-me algo curioso que vi com os meus próprios olhos. Escutem.
Certa vez, ao atravessar uma ravina, deparei-me com um dragão. Um monstro imenso, de cem cabeças — ou mais! — serpenteando por entre arbustos e pedras. Só de olhar, os cabelos arrepiaram-se-me.
Mas reparei numa coisa: as cabeças discutiam entre si. Cada uma puxava para o seu lado, nenhuma sabia para onde ir. E o corpo? Parado. Sem rumo. Não avançava nem recuava. Ficava ali, a debater-se consigo mesmo.
Minutos depois, surge outro dragão. Este, com uma só cabeça — decidida, firme, afiada como cimitarra. O corpo seguia sem hesitar. Cem caudas, todas unidas, moviam-se como uma única onda. Passou pelo mesmo arbusto… e desapareceu no horizonte.
Adivinhem quem era o vosso dragão. E qual era o nosso.”
Moral subtil?
🎖️ Mil braços sem cabeça clara servem mais à confusão do que à guerra.
🗡️ Unidade vale mais do que quantidade quando o que está em jogo é poder real.
Um conto diplomático com sabor a xadrez político — onde até os dragões aprendem a importância da liderança.