O LOBO E O CÃO

Era uma vez um lobo magricela, com as costelas quase a fazer sombra de tão visíveis, e a pele tão esticada que mal lhe cobria os ossos. Faminto, arrastava-se pela floresta à procura de algo — qualquer coisa — para trincar. Foi então que deu de caras com um cão gorducho, de pêlo brilhante e olhar vaidoso. Um cão que cheirava... a fartura.

O lobo lambeu os beiços — instinto antigo — mas hesitou. O cão parecia forte, com músculos bem alimentados e confiança de sobra.

Em vez de rosnar, o lobo arriscou conversa:

— Que belo aspeto tens, amigo. Que sorte a tua! — disse ele, disfarçando o estômago a roncar.

— Sorte? — respondeu o cão, com um sorriso. — Sorte é sabedoria. Basta deixares essa floresta ingrata e seguires-me. Lá, no mundo dos humanos, há comida a rodos, carinho, calor... E trabalho leve, muito leve!

— Que tipo de trabalho? — quis saber o lobo, curioso.

— Nada de mais — explicou o cão. — Latir de vez em quando, afastar chatos, sorrir para os amigos do dono... Coisas simples. Em troca? Frango, pão, restos de banquetes! E muitos mimos.

O lobo, com olhos quase molhados, já imaginava banhar-se em caldos gordos e dormir ao pé da lareira. Estava quase convencido... até notar uma marca estranha no pescoço do cão.

— E isso aí? Essa marca? — perguntou, desconfiado.

— Ah, isso? Nada, nada. É só da coleira.

— Coleira? Então não podes andar por onde quiseres?

— Bem... nem sempre. Mas olha que vale a pena! Não há fome, nem frio.

O lobo parou. O olhar, antes cheio de fome, agora brilhava com algo mais profundo.

— Prefiro a fome à corrente. Posso até não ter frangos no prato... mas pelo menos escolho onde ponho as patas.

E dito isto, desapareceu entre os arbustos, livre como sempre fora — e mais sábio do que antes.

Moral da história?
🎭 O conforto sem liberdade pode ser uma jaula disfarçada.
🐺 Às vezes, melhor passar fome em liberdade do que viver preso com fartura.

(Para crianças e crescidos que valorizam a autonomia... com um bom toque de humor animal!)

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